quinta-feira, 20 de abril de 2017

O que representaria a vitória de Lula em 2018?

Pesquisa Vox Populi demonstra que se as eleições fossem hoje Lula venceria no primeiro turno em todos os cenários. No contexto do Brasil atual o que significaria a vitória de Lula nas eleições de 2018? Vejamos algumas perspectivas para o futuro do nosso país.


A vitória de Lula em um país polarizado como temos hoje, com a manutenção da configuração do congresso atual, com parlamentares que defendem os interesses das classes dominantes, representaria um cenário muito conturbado para o ano de 2019 e esse é um ponto que deve ser considerado no planejamento das eleições de 2018 por parte do PT e dos grupos progressistas do país.

Em um congresso como o atual formado por forças fisiológicas, em sua maioria corrupta e de tendencias direitistas, em síntese, que não representam os interesses da população mais pobre do país, a vitória de um governo de ordem esquerdista como o de Lula certamente irá gerar uma situação conflituosa entre a presidência e o legislativo.

Ao analisar um governo, sempre deve ser levando em consideração, que esse é formado pelos poderes executivo e legislativo e, portanto, um governo surge a partir das ações e decisões desses dois poderes. Quando esses poderes se mostram com objetivos antagônicos, o governo, em certa medida, se torna desconfigurado, ou no meu entender, um governo "Frankstein", no qual um dos poderes tenderá a defender interesses nacionais, populares e progressistas e o outro lutará forçosamente para evitar que essas ações populares sejam implementadas e que, nesse caso, o executivo tenha qualquer progresso.

Isso foi o que ocorreu no segundo mandato de Dilma Rouseff quando Eduardo Cunha se tornou presidente da Câmara dos Deputados. Enquanto a presidentes tentava realizar um controle de gastos nas contas públicas, importante naquele momento para o país, a câmara dos deputados votou sucessivos projetos denominados naquele momento de "pautas bombas" que tinha como objetivo aumentar os gastos públicos visando atrapalhar as pretensões da então presidente, inviabilizando todas os seus projetos.

Mesmo assim vale a pena uma vitória de Lula?

Para as forças progressistas e para a população em geral obviamente que a vitória de Lula mesmo nesse contexto é muito melhor do que a vitória de um direitista conservador. Isso fica muito claro quando vemos o que ocorreu com o país após a saída de Dilma do governo federal. Após a sua queda a população em geral teve apenas perda de direitos, diminuição dos investimentos do governo na saúde, educação e outras áreas do estado voltadas para atendimento das populações mais carentes, através da PEC 241/55, entre outras propostas como a da reforma da previdência, trabalhista e a terceirização irrestrita aprovada, projetos que só retiram direitos dos trabalhadores. 

Costumo fazer uma analogia de que a presidente Dilma estava realmente sendo uma barreira para que essa lógica neoliberal que retira empregos, direitos e causa mais desigualdades não fosse adotada. Nesse contexto, após a sua saída abriu-se a porteira para que as ações da "Ponte para o futuro" na visão dos ricos, que poderão aumentar os seus lucros as custas do suor dos trabalhadores.  Já para os trabalhadores e menos favorecidos, a mudança de governo na verdade representa uma "pinguela para o passado" já que esses só perderão direitos, recursos e empregos, voltando a condições que tinham nas décadas anteriores. 

Essa lógica neoliberal e de destruição dos direitos das classes menos favorecidas certamente continuará com toda a força e velocidade caso um político progressista não vença as eleições de 2018. A burguesia não terá nenhum impedimento para expandir o seu pacote de maldades para a sociedade, como no momento atual, após a ruptura institucional, o qual temos um governo, presidente e congresso, com uma visão política anti-povo e aplicam com todas as forças politicas de retirada de direitos sociais e trabalhistas defendendo apenas os interesses de uma pequena parte da elite. 

A vitória de Lula seria fundamental, se não para inverter a lógica, pelo menos, para frear o retrocesso dos direitos que a classe trabalhadora adquiriu com muita luta e suor em anos anteriores. 

Como poderia ser alterado todo o contexto e haver uma mudança de rota real na nossa política que favorecesse os mais pobres?

Para haver uma verdadeira mudança na dinâmica política do Brasil a população precisaria entender o verdadeiro papel do Congresso e, a partir dessa compreensão, votar em pessoas que atendem os seus interesses e anseios. Quando um individuo vota em um presidente do PT e em um senador e um Deputado Federal do PSDB ele está, de forma prática, favorecendo a ocorrência do governo "frankstein", no qual, o executivo tem uma lógica popular e progressista, de defesa de direitos da maioria da população, já o Congresso é fisiológico, dominado por milionários, representantes das grandes empresas e do agronegócio brasileiro. Enquanto, o povo não compreender esse contexto, certamente, não teremos uma mudança real na nossa política e muito menos na nossa sociedade. 

As pessoas criticam que o governo Lula foi bom mas não atendeu as suas promessas por não realizar mudanças estruturais no país como a reforma tributária e política. Mas, com o congresso que sempre tivemos, que nunca variou esse contexto apresentado, em sua maioria, sempre fisiológicos e defensores de política voltados para os mais ricos, certamente ele não teria condições de passar reformas realmente progressistas com um parlamento que possui objetivos antagônicos a essas mudanças. Ele fez o que pôde para conseguir as conquistas sociais que conseguiu durante os seus governos.

Para sair desse ciclo vicioso, já que até mesmo o pacto de governo de coalizão progressista hoje é quase impossível, pois esse acabou de ser quebrado com a derrubada do governo Dilma, no qual o PMDB sempre foi um poder moderador e no momento atual não é mais, só é possível com um trabalho muito bem articulado entre as forças progressistas do país. E esse momento de retrocesso social e de perda de direitos traz uma grande oportunidade para isso. A administração costuma pregar que das ameaças é que podem surgir grandes oportunidades, isso se houver um planejamento estratégico e articulado das forças produtivas de uma organização. Partindo desse principio, as forças progressistas deveriam dialogar para o desenvolvimento de um projeto nacional de retomada do crescimento do país. 

No caso do PT e seus aliados, vejo que esses partidos devem focar todas as suas forças para aumentar o seu poder de ação nas casas legislativas, chamando os seus políticos de maior influência para que esses se candidatem para as vagas de Deputados Federais e Senadores. A meta deve ser garantir pelo menos um terço de forças progressistas de partidos como PT, PCdoB, PSOL, PDT, em uma das casas legislativas nas próximas eleições. Se não conseguir isso, certamente o governo Lula ou qualquer outro de ordem progressista terá problemas para se manter no governo e principalmente para governar.

Nos próximos anos os partidos progressistas precisam criar mais canais de contato com a população geral, devem ser construídos encontros, congressos e grupos políticos de base, tentando demonstrar a população a necessidade da vitória em uma eleição tanto no executivo, quanto no legislativo, para que o Brasil possa mudar de rumo e lutar por mais igualdade e diretos para a maioria da população. 

Na campanha política é necessário que esses partidos não se aliem com aqueles que já demonstraram ser claramente golpistas e fisiológicos, e que saiam como uma força real autônoma do campo progressista.  E por fim, que Lula e os demais políticos da cúpula histórica desses partidos como Ciro Gomes, Luciana Genro entre outros, deixe claro para o povo que é necessário se vote em legisladores que tenham um programa voltado para o campo progressista. Alguns políticos, inclusive do campo progressista, deveriam deixar os seus interesses pessoais e grupais de lado e realizar uma verdadeira luta pelo Brasil e isso só é possível com uma união das esquerdas, que até hoje não foi possível, muitas vezes devido a egos de determinados grupos desse campo da política.

Com os 54 milhões de votos que a Dilma conseguiu nas eleições para presidente, no segundo turno, esses, sendo depositados para políticos progressistas, poderíamos ter conseguido mais da metade das duas casas legislativas. No processo de Impeachment o PT com todos os seus aliados reais e progressistas juntamente com os democratas brasileiros e que respeitam o voto popular não conseguiram nem um terço dos votos nas duas casas legislativas para evitar a ruptura institucional. Isso só comprova que o grande erro estratégico do PT foi aliar e confiar profundamente em partidos como o PMDB, que se mostraram nesse momento extremamente fisiológicos assim como a grande maioria dos demais partidos que temos hoje no nosso Congresso. 

Por fim, o povo tem que reagir a toda essa lógica neoliberal e a favor da corrupção que tomou conta do Congresso Nacional. É importante que o povo faça a sua parte nas urnas para que possamos ter um executivo diferente, um legislativo em maior grau formado por progressistas, pois essa é a única forma de voltar a sonhar com um Brasil melhor e de todos. 

Anderson Silva